Sobre o desenho de Emilia Emileva
Não conheço, na história recente da arte contemporanea Bulgara,
ninguem com a capacidade de expressão e de representação emocional
com a densidade e profundidade que os seus desenhos revelam.
Não são espectaculares, nem nos meios, nem na escala, nem na
estratégia intelectual. Nada de pretencioso ali se pode ver. Nenhuma
erudição academica. Nenhum sentido de afirmação falso sobre uma ideia
de arte. Nenhuma habilidade para fazer mostrar espanto a quem se quer
fazer ouvir!
O que nos fascina no seu desenho é exactamente a sua simplicidade e
iconografia essenciais. A sua autenticidade!
Tudo ali é verdade absoluta! -Coisa rara na arte contemporanea! A
verdade despida. Sem artificios e sem gratuito espectaculo performativo!
São sobretudo sinais que registam estados de sentimentos vividos ou
de desejos almejados duma existencia despida de tudo que fica para
além do corpo: A emoção. O sentimento. A vida e a morte.
Existe, nas series que sobre temas distintos trabalha um sentido de
unidade cosmico e simultaneamente instintivo e epidermico. Sente-se
na pele e simultaneamenta na alma o grito e o tactil doce tocar da
mão. Olhamos os olhos que nos olham que olham outros olhos.
Tocamos a superficie do papel como que se fora viva a entidade que
serve de registo à nossa alma.
Cada momento é um novo olhar. Mas a sua personalidade é sempre,
irremediavelmente, arrebetadora no minusculo espaço onde mostra a
vida de cada um de nós pela sua, numa projeção universal, porque
profundamente humana.
É assim o seu desenho.
Francisco Laranjo
Porto, 21 de Setembro de 2006